O parto prematuro pode ser uma experiência de rutura, tanto para o bebé, que chega antes do tempo, como para os pais, que vivem medo e incerteza. Mas mesmo quando o nascimento é difícil e inesperado, há espaço para reparação emocional. A psicologia perinatal mostra que o vínculo, o toque e a presença amorosa têm um poder transformador: ajudam a restaurar a segurança emocional do bebé, promovem o seu desenvolvimento saudável e reescrevem a história do nascimento.

O nascimento é sempre mais do que biologia.
É um encontro. É o início de uma história.
Quando esse encontro acontece antes do tempo, quando o corpo do bebé ainda se preparava para habitar o mundo, o nascimento pode trazer consigo medos, separação física e um descolar da mãe que rompe o ciclo natural da biologia.
Qual é o impacto do parto prematuro para o bebé?
O parto prematuro é, muitas vezes, uma travessia abrupta para o bebé. Isto porque o bebé é exposto a luzes intensas, sons estranhos, mãos que cuidam mas que também invadem, e à ausência momentânea do colo que deveria ser abrigo.
Para o bebé, um parto prematuro é um despertar precoce. Para a mãe, e para quem a acompanha, um parto prematuro pode ser a perda do tempo sonhado, um guião interrompido a meio. Mas é importante recordar: o parto não define o destino. Isto significa que, mesmo um início difícil, pode transformar-se numa história de ternura e crescimento.
A evidência mostra que o impacto emocional do parto para o bebé depende, sobretudo, do que acontece depois. Se um bebé puder receber toque e presença amorosa minimizará os efeitos desreguladores da experiência de parto ou internamento neonatal. O vínculo tem um poder reparador do trauma.
Importa também lembrar que um parto emocionalmente difícil não tem de marcar para sempre a qualidade da vinculação. O corpo e o cérebro do bebé são moldáveis e, na viagem da neuroplasticidade e da adaptação, abertos ao reencontro com a calma.
O poder da reparação sensorial
O bebé sente antes de compreender. Não fala, mas regista: regista o calor, o som da voz, o ritmo do coração materno.
Essas impressões ficam guardadas no corpo como memórias sensoriais, que tanto podem nascer do medo como do acolhimento. Cada toque terno, cada olhar tranquilo, cada gesto de cuidado é uma mensagem que diz: “estás seguro comigo, podes confiar em mim”.
É assim que o mundo começa a parecer habitável outra vez.
Por vezes, os bebés que viveram partos intensos mostram-se mais sensíveis: choram com mais facilidade, têm o sono leve, assustam-se com ruídos. Não é sinal de fraqueza, é a linguagem do corpo a pedir contenção e previsibilidade.
A resposta não está em silenciar, mas em escutar e responder da forma mais conectada que for possível para ti.
O essencial muitas vezes acontece depois do parto: no colo que acolhe, no tempo partilhado, na constância de quem fica.
Como promover o bem-estar emocional do bebé?
- O vínculo é o grande protetor emocional
- A reparação nasce da presença suficientemente boa, não da perfeição, mas da disponibilidade genuína
- O toque pele a pele é terapêutico: regula o ritmo, acalma o sistema nervoso, ensina o corpo do bebé a confiar
- Responder ao choro com sensibilidade cria segurança emocional
- Falar com o bebé, contar-lhe a sua história, nomear o que viveu, dá sentido à experiência
- O brincar, o olhar e o sorriso são pontes invisíveis que reconectam mãe e bebé
- Cada gesto de ternura reescreve o início do vosso caminho
O parto prematuro pode ser breve, abrupto, até traumático. Quando isto acontece, os momentos que se seguem são fundamentais para o bom desenvolvimento da saúde emocional do bebé: o colo que repete “estou aqui”, o olhar que confirma “és esperado”, a voz que embala. O amor é um processo, desenrolado no tempo e no espaço e é o chão seguro sobre o qual o bebé vai crescer.
Notas:
Dell’Aversana, V., Tofani, M., & Valente, D. (2023). Emotional regulation interventions on developmental course for preterm children: A systematic review of randomized control trials. Children, 10(3), 603. https://doi.org/10.3390/children10030603
Forde, D., Fang, M. L., & Miaskowski, C. (2022). A Systematic Review of the Effects of Skin-to-Skin Contact on Biomarkers of Stress in Preterm Infants and Parents. Advances in neonatal care : official journal of the National Association of Neonatal Nurses, 22(3), 223–230. https://doi.org/10.1097/ANC.0000000000000905
Hee Chung, E., Chou, J., & Brown, K. A. (2020). Neurodevelopmental outcomes of preterm infants: a recent literature review. Translational pediatrics, 9(Suppl 1), S3–S8. https://doi.org/10.21037/tp.2019.09.10
Miller, J. V., Chau, V., Synnes, A., Miller, S. P., & Grunau, R. E. (2022). Brain Development and Maternal Behavior in Relation to Cognitive and Language Outcomes in Preterm-Born Children. Biological psychiatry, 92(8), 663–673. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2022.03.010
Moore, E. R., Bergman, N., Anderson, G. C., & Medley, N. (2016). Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. The Cochrane database of systematic reviews, 11(11), CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4







