Gravidez arco-íris: estratégias para enfrentar medos e recuperar confiança

4 minutos, 827 palavras
The Lovable You
Autor: The Lovable You
Tempo de Leitura: 4 minutos, 827 palavras

A gravidez após uma perda é uma experiência única, marcada por emoções intensas e desafios muito específicos e delicados do ponto de vista emocional. Ainda que, à primeira vista, não o pareça, o corpo e a mente têm formas extraordinárias de  proteção que ajudam a atravessar períodos de grande fragilidade emocional.

Muitas vezes, aquilo que em meios não especializados ouvimos chamar de desconexão com o bebé ou ferida de rejeição, entre outros, podem ser na verdade, uma forma de autopreservação para poder enfrentar uma nova experiência de gravidez, com todas as memórias que ficaram gravadas. 

Vejamos de seguida as respostas mais comuns:

afeiçoar-se ao bebé com cautela

Muitas mulheres procuram moderar o seu apego à gravidez e ao bebé na tentativa de se proteger emocionalmente, caso ocorra uma nova perda. Isto traduz-se por exemplo em comportamentos como:

  • referir-se ao bebé por “ele/ela” em vez do nome, que muitas vezes nem conseguem escolher;
  • evitar imaginar a família com esse bebé nos braços para não criar expectativas;
  • adiar a compra de produtos e enxoval para o bebé, receando preencher a casa com memórias físicas da sua existência incerta:

“Ao longo da gravidez fui comprando algumas roupinhas, alguns produtos essenciais. Depois do meu filho nascer, aí sim, aos poucos fui começando a sentir um alívio por estar tudo bem connosco”.

adiar a notícia da gravidez

É frequente que famílias que já passaram por uma perda gestacional optem por adiar ou esconder a notícia da gravidez, ou partilhá-la com um grupo muito restrito de pessoas para evitar ter de comunicar a morte do bebé caso a gravidez não vingue.

“Poucas pessoas sabiam que eu estava grávida. Nunca publiquei fotografias em que se visse a barriga. Preferi resguardar-me”.

focar-se em pequenas vitórias

É comum estabelecerem-se pequenos marcos que agem como pontos de segurança emocional ao longo da gravidez.  Estes marcos são importantes e contribuem para uma sensação de confiança e controlo, que pode reduzir eficazmente a ansiedade ou hipervigilância ao longo da gravidez:

  • ouvir o coração do bebé bater pela primeira vez;
  • ter sintomas associados à gravidez que assegurem a sua continuidade;
  • completar as primeiras 12 semanas de gravidez;
  • superar a data da perda anterior;
  • saber que o bebé está saudável na ecografia morfológica;
  • atingir a data de viabilidade fetal;
  • chegar grávida à semana de maturação pulmonar;
  • chegar às 37 semanas;
  • (…)

aproximar-se de profissionais de saúde 

Quase todas estas metas implicam assistência clínica, o que significa que a relação estabelecida com os profissionais de saúde é uma chave fundamental. Muitas vezes, a mulher que sofreu perda anterior, enfrenta muita ansiedade para verificar se o bebé está bem, principalmente até ao momento em que já se sentem os seus movimentos. 

Isto significa que frequentemente surgem pedidos extra protocolo hospitalar, por isso,  ouvir e proteger estas necessidades pode fazer toda a diferença. 

“Eu estava muito ansiosa antes dos check-ups de rotina e depois de ouvir os batimentos cardíacos fetais, sentia-me mais tranquila, mas dois ou três dias depois, ficava outra vez ansiosa.”

procurar informação

É frequentemente referido que procurar saber mais através de pesquisa online, leitura de livros e artigos, falar com profissionais de saúde, foram escolhas que trouxeram alívio em relação a dúvidas e preocupações sobre a saúde e o estado de bebé.

“Tentei encontrar informações sobre as coisas que me preocupavam … para me convencer de que não foi um aborto espontâneo, então li tudo o que pude. Encontrar explicações lógicas sobre as coisas que me preocupavam fez-me sentir mais calma” 

repensar e mudar o estilo de vida

Muitas mulheres procuraram fazer alterações ao seu estilo de vida, por exemplo, melhorando sua dieta, reduzindo o esforço físico ou evitando exercícios físicos, reduzindo as fontes de stress, na tentativa de reduzir o risco de uma nova perda.

“Optei por deixar de fazer várias coisas. Parei de fazer horas extra, começar a descansar mais. Parei de fazer algumas partes dos treinos, deixei de comer certos alimentos. Passavam-me as coisas mais irracionais pela cabeça – se eu ficar calma vai correr tudo bem, se eu caminhar sem esforço vai correr tudo bem…”

encontrar apoio noutras pessoas

Apesar da solidão fazer parte deste processo em vários momentos, revela-se sanador encontrar grupos de pessoas que passaram pela experiência da perda, no seio dos quais pode criar-se um elo de ligação por via da compreensão desta dor. 

De grande importância são também o/a parceiro/a e pessoas do círculo mais próximo – familiares e amigos – que abracem o luto por inteiro, sem minimizar o que aconteceu ou tentar evitar a sentimentos como a tristeza ou a raiva. 

Por fim, o apoio de terceiros também pode advir da própria fé, da espiritualidade ou da religião como lugares mais altos de pacificação e amparo. 

Na The Lovable You encontras uma equipa de psicólogas com muita experiência na área da perda perinatal. Se em algum momento sentires que necessitas de falar sobre a tua experiência, estamos aqui para ti com muito amor.


NOTAS: 

Pregnancy after perinatal loss: A meta-ethnography from a women’s perspective

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